A FICÇÃO
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"Fictício não significa falso, mas apenas
historicamente inexistente¹."
O vocábulo ficção vem do latim
fictione(m), que por sua vez derivou-se de "fingere", e significa ato ou efeito de fingir, imaginar, simular.
Encerra, portanto, a ficção, o próprio núcleo do conceito de Literatura: literatura é ficção. Neste caso,
qualquer obra literária (conto, romance, novela, soneto, ode, comédia,
tragédia) constitui a expressão dos conteúdos da ficção. Entretanto, empregamos,
costumeira e restritivamente, o termo ficção para designar a prosa literária,
isto é, a prosa de ficção.
“A literatura de imaginação ou de criação é a
interpretação da vida por um artista através da palavra. No caso da ficção
(romance, conto, novela), e da epopeia, essa interpretação é expressa por uma
história, que encorpa a referida interpretação. É, portanto, literatura
narrativa.
A essência da
ficção e, pois, a narrativa. É a sua espinha dorsal, correspondendo ao velho
instinto humano de contar e ouvir histórias, uma das mais rudimentares e
populares formas de contar e ouvir histórias. Mas nem todas as histórias são
arte. Para que tenha valor artístico, a ficção exige uma técnica de arranjo e
apresentação que comunicará à narrativa beleza de forma, estrutura e unidade de
efeito.
A ficção
distingue-se da história e da biografia, por estas serem narrativas de fatos
reais. A ficção é produto da imaginação criadora, embora, como toda a arte,
suas raízes mergulhem na experiência humana. Mas o que distingue das outras
formas de narrativa é que ela é uma transfiguração ou transmutação da
realidade, feita pelo espírito do artista, este imprevisível e inesgotável
laboratório. A ficção não pretende fornecer um simples retrato da realidade,
mas antes criar uma imagem da realidade, uma reinterpretação, uma revisão. É o
espetáculo da vida através do olhar interpretativo do artista, a interpretação
artística da realidade.” (Coutinho, Afrânio. Notas de Teoria Literária. Civilização
Brasileira,1976. p.30)
Condenados a uma existência que nunca está à altura de nossos sonhos,
tivemos de inventar um subterfúgio para escapar do nosso confinamento: a
"ficção". Ela nos permite viver mais e melhor, sermos outros sem
deixar de sermos o que somos; deslocarmos-nos no espaço e no tempo sem sairmos
do nosso lugar nem da nossa hora, e vivermos as mais ousadas aventuras do
corpo, da mente e das paixões, sem perdermos o juízo ou trairmos o coração.
"Os eventos relatados em histórias e a
sucessão dos fatos fazem parte da fantasia do autor que, a partir da observação
do mundo ao seu redor, cria um ambiente imaginário onde pode, inclusive,
inventar e reinventar a sua própria existência." (D’Onófrio,
1997)
A ficção nos permite viver num mundo onde as regras
inflexíveis da vida real podem ser quebradas, onde nos libertamos do cárcere do
tempo e do espaço, onde podemos cometer excessos sem castigo e desfrutar de uma
soberania sem limites; depois, voltar a esse mundo de detalhes insignificantes,
obstáculos, limitações barreiras e proibições que nos espreitam de todo o canto
e em cada esquina sem nos sentimos enganados. ®Sérgio.
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