Frase da Semana

" Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Por isso, aprendemos sempre! "

Paulo Freire

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Histórias Interessantes 3

 O Bom Mestre

    Uma boa história precisa de um mestre e de um discípulo. Sigo esta orientação sempre que conto ou crio uma história interessante.
    O bom mestre compreende que somos sábios e aprendizes. Ninguém é só sábio, nem só aprendiz.
    Aprendemos na proporção que ensinamos. A aprendizagem é um processo infinito.
    Para que a obra de arte nasça é necessário um artesão capacitado e madeira de boa qualidade. O mestre precisa ser criativo, fiel à natureza da madeira, mas aberto às etapas do processo.
    Bom mestre é também o professor que com paciência oferece meios para que o aluno decodifique o que está à sua volta, mas aprenda a fazer sua  própria   interpretação.
    Bom mestre é o amigo fiel que acompanha com  carinho o desabrochar da vida do outro sem querer lhe impor argumentos porque sabe que a experiência de cada um é linda porque é inédita e única.
    O bom mestre é como o oleiro que acaricia a argila e a transforma em jarro para que acolha flores.
    O bom mestre quer que cada discípulo seja como o jarro, útil, peça singular para receber a beleza de cada dia, não se prendendo aos dissabores.
    Bom mestre pode ser você. Disponha-se a semear o bem, a ouvir, a interpelar... e a sabedoria finalmente desabrochará.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Histórias Interessantes 2

O caminho se descobre caminhando

    Pela terceira vez o sino tocou e Marta tentou ficar indiferente ao apelo da “última chamada” a que tantas vezes estivera atenta. Aquele som trazia à sua mente tantas lembranças, algumas tão bonitas que dava gosto vê-las ali presentes, como se o tempo voltasse e ela pudesse sentir o cheiro do vestido novo e a algazarra dos irmãos e vizinhos a caminho da missa.
    Naquele tempo seus pais não a dispensavam de ir à igreja, mesmo com as fingidas dores de barriga — desculpa que só servia para causar riso aos parentes — e assim foi se acostumando à obrigação. Mais tarde, já adolescente, descobriu que a obrigação poderia ter suas vantagens quando teve início a primeira paquera.
   No dia do casamento estava deslumbrante em seu vestido de noiva e, mesmo sem nenhuma convicção, cumpriu o ritual do sacramento que mais tarde estaria esquecido numa longa e tumultuada separação.
    “Assim como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras”. A carta de Tiago 2,26 fora lida num dia qualquer da infância. Não entendia por que a memória registrara esta frase e também nunca parou para pensar em seu sentido.
    Hoje, passado tanto tempo, vivendo as dores de uma vida vazia, não via sentido em ir à igreja. Ademais, de que adiantaria? Durante o tempo em que a frequentara sua vida não fora melhor. Nem mesmo o sacramento da união conjugal evitara a catástrofe da separação.
    E agora essa circunstância de estar morando tão próximo de uma igreja e este sino tocando, como um apelo... As lembraças eram tantas e tão confusas que não resistiu e foi à missa. Na homilia o padre contava a seguinte história:
    Um jovem interrogou ao seu mestre a razão de não melhorar a sua vida, mesmo com os bons ensinamentos do sábio, ao que ele respondeu:
    — Meu jovem, o bairro onde você mora é distante? 
    — Sim, mestre.
    — Você conhece bem o caminho a ponto de ser capaz de ensinar a alguém que queira chegar lá?
    — Sim, explico o caminho de maneira a não deixar dúvida — respondeu o jovem.
    — E você acha que só com suas explicações a pessoa chega lá?
    —  Não, mestre. A pessoa tem de pegar o ônibus até o terminal, de lá pegar outro ônibus e, ao descer no bairro, tem de procurar a rua onde moro.
    — Pois é isso que eu quero lhe explicar: os ensinamentos são assim: eu explico da melhor maneira possível, de modo que todos possam entendê-los, mas só existem transformações em quem realmente os pratica. O caminho é explicado para todos, mas cada um tem de percorrê-lo, fazendo sua própria experiência.
    Marta ouviu atenta a história e sentiu uma mudança interior. Percebeu que o tempo todo estivera apenas ouvindo ensinamentos sem jamais praticá-los. Mas, ao invés de desespero, sentiu alívio ao pensar que os caminhos de Deus nunca se fecham e que é sempre possível percorrê-los.