Ou todos ou nenhum...

O talento educa-se na calma;

o caráter, no tumulto da vida.



Contam que em um tempo esquecido pelo calendário, muitas pessoas se aventuravam em desafios para provar que tinham um coração bom, limpo, coerente e paz de frequentar a Escola dos Mestres e quiçá, um dia, governar a aldeia. No entanto, poucos voluntários voltavam, uma vez que desapareciam envoltos na auto-suficiência, no orgulho ou no egoísmo...

Em um dia qualquer, um jovem pediu ao Mestre que o deixasse assistir ao tal desafio que seduzira tantos e tantos habitantes.

Após muita conversa, o jovem conseguiu a autorização, mas com a condição de não revelar a ninguém o que assistiria. Tudo acertado, o jovem viu o Mestre abrir um portal, no início minúsculo, e que se expandiu do tamanho da parede... As imagens foram surgindo como um filme: o voluntário da vez era um já maduro senhor. Conhecido por emprestar dinheiro a juros altíssimos, mesmo assim se candidatara.

De repente, o jovem viu o tal voluntário ser jogado em um imenso rio e arrastado pela correnteza. Era desesperador ver a agonia do tal homem. Subitamente, apareceu no rio um frágil bote em que ele se agarrou e momentaneamente respirou meio aliviado. De fato foi momentâneo porque inesperadamente surgiu um grupo de pessoas com os braços elevados, lutando para não morrerem afogados. O homem encarou as pessoas e impediu brutalmente que qualquer um entrasse no seu barco. Seguiu adiante , sem sequer olhar para trás. Passou então próximo de uma vegetação bonita, chegou à margem e desapareceu.

O jovem estava boquiaberto. O Mestre ao contrário, parecia indiferente ou porque já se acostumara a ver o final daquele desafio ou porque não acreditaria que justamente com aquele homem seria diferente.

O jovem se preparava para perguntar detalhes do desafio quando o Mestre pediu com um gesto que permanecesse para assistir ao desempenho de mais um desafiante. Quem sabe aconteceria algo novo? Apareceu na imagem um vulto de capuz verde. Foi jogado no rio, nas mesmas condições. Com a queda, o rapaz pôde ver que era uma moça de aparência tranquila. Ficou pasmado com a coragem dela. Ela resolveu nadar a favor da correnteza em vez de lutar contra as águas. Apareceu um bote semelhante ao outro. Ela apoiou-se e  entrou. Percebeu que um dos assentos estava quase solto e ela então o puxou e o transformou em remo. Remou, e de repente encontrou um grupo de pessoas quase afogadas. Estendeu o remo para elas, pegou de imediato uma criança, colocou-a na pequena embarcação. Dois ou três se agarraram ao barco e ela não repeliu... Quando o jovem pensou que a moça e os demais morreriam afogados eles sumiram e a moça foi recebida em outro espaço por dezenas de mestres que a acolheram com carinho. Era a nova discípula daquela escola.
O Mestre encarou o jovem e disse:

- Somente quem arrisca a própria vida para salvar a do outro está preparado para ser líder. Quem só pensa em si, dificilmente aprende a lembrar do outro porque é incapaz de compreender o sentido da empatia.

Anos mais tarde, aquele jovem também se submeteu a um desafio. Como tinha retidão nas atitudes entrou para a Escola dos Mestres e lá encontrou uma certa moça corajosa e bela... Mas aí é outra história!