Frase da Semana

" Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Por isso, aprendemos sempre! "

Paulo Freire

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Restabelecer a claridade

                    Outro dia reli o trecho de um conto em que uma criança, uma menininha de 6 anos de idade, dizia, antes de dormir, quando o pai deixava apenas a luz do abajur acesa e passava perto da parede:
                     “— Olha papai, ali o senhor tá bem grande...”
                     Ao que o pai respondia:
                     “— Mas não sou eu, minha filha, é a minha imagem projetada e ampliada pela ausência de luz... “— disse rindo o pai, que no conto, não por acaso, era um professor.
                     “— Ah, papai... mas tu tá enorme — retorquiu a menina rindo e bocejando”.
                     Chamou-me a atenção porque muitas vezes, no nosso cotidiano, somos sombras e em muitos casos, ampliadas. Quando se magoa alguém ou se vai às vias de fato, o que está ali, naquele momento, não é a pessoa, mas sua sombra, que ao ser vista pelo outro, parece enorme e chega a amedrontar.
                     Parecer uma sombra imensa e desfigurada depende de muitos fatores. Geralmente é a soma de inúmeros “sim” que vamos dando, quando na verdade queríamos dizer sonoros “não”. O contrário também se aplica: dizemos não, por convenções ou princípios, quando o nosso desejo real era dizer sim.
                     E vamos acumulando insatisfações, deixando passar oportunidades para fazer valer o nosso ponto de vista, porque no íntimo de nosso coração não queremos desagradar aos que mais amamos ou tememos decepcionar aqueles que já determinaram como deve ser nossa postura diante dessa ou daquela querela.
                     Engolir sapos, como se diz popularmente, faz qualquer um explodir, mais cedo ou mais tarde. E quando isso acontece (e sempre acontece), diz-me a experiência que não adianta fazer como o fez o jovem professor e pai do conto: justificar com belas palavras. No primeiro momento, o que o outro reconhece é a enormidade da sombra.
                     Admitir aquele momento de sombra como realidade é o primeiro passo para se entender o que o precedeu. Se a sombra é proveniente da escassez de luz, não da falta plena, significa dizer que só resta restabelecer a claridade.
                     E como se faz isso? Livrando-nos do sentimento de culpa, pois esse sentimento nos anestesia e nos vitimiza diante de qualquer situação. Torna-se importante reparar o possível dano que causamos naquele instante sombrio.
                     Esse reparo passa pelo pedir perdão e evitar os causadores daquele estado transitório de pouca luz. É um exercício de autoconhecimento, que fará com que a partir de então você deixe soar o alarme de seus limites.
                     Também é interessante perceber que a menina não teme a sombra do pai porque o amor que o une é maior que qualquer momentânea ausência de luz.
                     E, finalmente, como dizia Jung: "Do mesmo modo que aquele que fere o outro fere a si próprio, aquele que cura cura a si mesmo".

                                                            Assis Almeida – Psicólogo em formação

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